Arte Contemporânea no Ensino da Arte |
Stela Barbieri A cerca de 23 anos venho trabalhando em oficinas de artes com crianças de Educação Infantil e Ensino Fundamental (ciclo I). Atualmente sou assessora de artes para professoras polivalentes e especialistas da área de artes. A sete anos dirijo a Ação Educativa do Instituto Tomie Ohtake, paralelamente a minhas ações como educadora tenho desenvolvido meu trabalho como artista plástica e contadora de historias/autora de livros. Este dialogo entre minhas áreas de atuação se articulam e fazem com que eu perceba alguns encaminhamentos possíveis dentro do trabalho de ensino da arte na escola que possam criar um ambiente fértil para o aprendizado e expressão das crianças jovens e adultos. Ouso me aventurar a expor algumas de minhas idéias neste artigo pensando mais especificamente em crianças de Educação Infantil e Ensino Fundamental (ciclo I). Acredito que fundamentalmente o ensino da arte deve possibilitar o desenvolvimento da sensibilidade, da percepção e de um pensamento artístico para que o individuo possa ler o mundo, a arte e expressar-se através dela entendendo as diferenças de contexto num trabalho integrado que favoreça o desenvolvimento de suas capacidades criativas e expressivas. O ensino contemporâneo da arte sempre deve estar em sintonia com a arte que esta sendo produzida em seu contexto histórico. A arte pode ser vista como um jogo cujas formas, modalidades e funções se transformam conforme as épocas e contextos. A arte tal qual se apresenta na contemporaneidade, opera num campo que traz em si uma construção visual que abre espaço para o entrecruzamento de todas as diversas áreas do conhecimento, num panorama transdisciplinar. A partir de uma idéia (conceito-projeto) ou da experiência com materiais, o sujeito pode expressar o que sente, pensa, observa, imagina e deseja adequando seus projetos às possibilidades técnicas dos materiais, tecnologia disponível e situações de criação. A produção em arte deve se dar na relação sujeito – matéria/ação – contexto, num jogo que altera as relações e cria possibilidades de encontro do sujeito com ele mesmo ou com a matéria ou com os outros a sua volta. Dentro da perspectiva de um ensino das artes visuais de ação expandida é fundamental observar e questionar o mundo a nossa volta, mantendo vivo o papel de pesquisador que o estudante deve ter frente ao que se apresenta em seu caminho e para isto é necessário que o educador de ensino da arte também seja pesquisador e criador, que se indague sobre o assunto estudado antes e junto com seus alunos e com eles vá fazendo investigações e descobertas. O papel do professor neste sentido esta no lugar daquele que observa seus alunos e as pistas que eles vão deixando ao longo do percurso como núcleos potentes de expressão, pontos de partida para criar ações que ampliem as idéias dos alunos e estabeleçam pontes com a cultura criando condições e dando tempo para que os alunos possam realizar seus trabalhos. Todas as informações internas ou externas são uma possibilidade de investigação para a formação em arte: A organização e a desorganização do mundo. O estruturado, o capenga. A natureza em sua mais ampla expressão e selvageria. As imagens suscitadas pelo que acontece ou não acontece a nossa volta. Nosso jeito de olhar e o que selecionamos para ver. O papel da área de artes na escola é trazer à tona, junto com os alunos e para eles, aspectos do visível e do invisível para que cada pessoa estabeleça relações entre conteúdos mediante algumas referências e reflexões propostas pelo professor – tutor e provocador de oportunidades e reflexões, estimulador, investigador, conscientizador da experiência. O mundo é o maior ponto de partida e de chegada – a materialidade e a materialização de nossos pensamentos – potências de nossa expressão. Há aventura e trabalho, elaboração e busca por trás da obra dos artistas e é a inquietação e o movimento realizado pelos artistas que precisamos tornar visível as crianças partindo da experiência que elas tem do mundo e da arte. A aula de arte inicialmente, assim que o ano começa e nosso contato com os alunos se dá, é bastante propositiva – organizamos os materiais a serem utilizados – os desafios ou propostas a serem feitos para o grupo de alunos, no entanto é fundamental que as crianças tenham voz, ou seja, que as observemos atentamente percebendo seu interesse, em suas procuras e indagações, em suas escolhas e afirmações. As crianças quando fazem perguntas tocam - no que Sara Pain fala do desafio dramático que é ser autor – sair do conforto. O professor deve alimentar a inquietude da indagação para por em movimento o que o aluno sente e pensa, possibilitando que através de suas perguntas o aluno crie. Sendo assim, a área de arte, deve ter objetivos claros, mas flexibilidade para alterar os conteúdos abrindo mão em muitos momentos, talvez na maioria deles, dos conteúdos de referência, para atuar em função do que o grupo trás como emergente e urgente. Precisamos estar atentos as perguntas das crianças para criarmos novos sentidos a nossa pratica a cada momento. A Documentação do percurso e da produção das crianças trás a possibilidade de que os alunos possam perceber sua trajetória e que o professor tenha consciência de todo percurso e os professores dos anos seguintes possam acompanhar a evolução dos alunos no decorrer dos anos. Para isto é necessário que o professor realize uma coleta de informações, organize esta coleta e vá realizando um portfólio com relatos e imagens, não apenas com o trabalho de cada aluno, mas do grupo como um todo. Posteriormente os dados recolhidos podem ser reelaborados e transformados em um documento com reflexões mais profundas. A área de artes deve ir ao encontro do interesse dos alunos, bem como despertar o interesse destes para aspectos que acreditamos importantes e que gostaríamos que eles conhecessem. Podemos considerar que todas as áreas do conhecimento e todos os momentos da vida podem potencializar as oportunidades de entrar em contato com o universo da arte. O contato com a arte também pode potencializar o contato com o mundo. O ensino em arte na contemporaneidade deve se caracterizar pela flexibilidade, pluralidade, mutabilidade e provisoriedade. Se as aulas de artes não levarem ao desconhecido perdem sua função inicial de levar a investigação. O que freqüentemente acontece no ensino da arte são conteúdos dados de maneira descontextualizada, fragmentada, compartimentada, atividades cheias de efeitos sedutores sem intenção, investigação ou continuidade. O trabalho deve se estruturar de maneira orgânica de modo a que exista uma pulsação – respiração entre o coletivo e o individual sempre levando em conta as necessidades de tempo e espaço e o interesse e envolvimento dos professores e alunos. O tempo e o espaço devem ser adequados aos grupos trabalhados, com dinâmicas específicas o que exige uma leitura e percepção atenta do professor. O momento de conclusão deve proporcionar revisão, critica e levantamento de possibilidades para continuidade. |
Stela Barbieri
Bibliografia: Bourriaud, Nicolas. Estética relacional. São Paulo: Martins Fontes, 1998. Outras fontes de referência: Palestra ALFREDO HOYUELOS – Colégio Sidarta – 2008. Reuniões de assessoria de Cleide Terzi na escola Vera Cruz – de 2006 a 2008. |