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Mostra Individual

Galeria Valu Oria - SP
1999

Se em Antártica Artes com a Folha (1996), Stela Barbieri apresentou uma instalação em látex como clara referência à pele humana, nessa Mostra Individual realizada na Galeria Valu Oria, a artista vai mais a fundo e ultrapassa a derme para discutir o interno. A começar pela escolha do material predominante na mostra: o vidro.

Com esculturas desse material, Barbieri trabalha o tempo interno das coisas. Todas as peças contém algo, seja lã de carneiro, algodão embebido em tinta vermelha ou cera de abelha. A imobilidade desses conteúdos, junto da transparência do contingente, aponta para uma situação passada, como se os líquidos turvos que ela usa para preencher alguns objetos já estivessem lá há muitos e muitos anos.

Essa estagnação da matéria fica mais evidente nas duas peças em formato de colher – recheadas com líquido que inclui pigmento vermelho, álcool e silicone, as peças também tem a virtude de conseguirem ser orgânicas mesmo tendo sido criadas com a pouca organicidade do vidro.

Nos desenhos feitos com barbante e tinta, a discussão é a mesma – feitos em vermelho, remetem claramente ao sangue. O formato de "U", comum a todos eles, cria uma relação interessante com as colheres, como se contivessem algo. O aspecto gestual de seus traços também demonstra agressividade. É dessa forma que Barbieri recupera uma das características de obras passadas. Consegue, de certo modo, voltar às suas "peles" anteriores.


Texto baseado na reportagem de Cassiano Elek Machado,
para Ilustrada – Folha de S. Paulo, em 27 de maio de 1999.








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Stela Barbieri é artista, contadora de histórias, autora e educadora. Dirige o bináh espaço de arte.