Stela Barbieri redescobre a carga vital adormecida dentro da matéria industrializada. Por isso suas esculturas não se esgotam nos limites das suas aparências inesperadamente orgânicas. Algumas exalam cheiros, enquanto outras não cessam de purgar líquidos. A relação entre suas esculturas e os mistérios orgânicos começou nas primeiras realizações, cheias de referência à algumas superfícies vegetais e animais que, quando colocadas contra a luz, revelam o arame estrutural que lhes dá forma. Mas as linhas de ferro prensadas pelas folhas de celofane - elementos de antigas esculturas - não bastavam para a artista, uma vez que era preciso despertar os materiais de seu sono letárgico. Era preciso que o ferro se oxidasse e atacasse o papel, para que o resultado fosse mais que uma metáfora; que o feijão germine sob o algodão para que dai irrompa uma insólita topografia. Suas esculturas aspiram à vida e toda a fertilidade que dela emana. Dai a fusão entre suas partes; o motor erótico que as dinamiza. Sua feitura é guiada pelo desejo de que as substâncias se animem e de que o tempo volte a escorrer num murmúrio que se prolifera em nódoas, patinas e decomposição.
Agnaldo Farias